terça-feira, 9 de novembro de 2010

Adriana Calcanhotto-Gatinha manhosa

para não deixar morrer um poeta...

como saberei de ti
se não abres tua boca
e não tomas o papel e a tinta
se não deixas fluir através da poesia tua dor
e não soltas num grito a angustia que teu peito abafado guarda
se te escondes sob um sofá embolorado como Gregor em Kafka...
como saberei de ti...
ninguém poderá tirar de teu quarto os móveis para te dar espaço
essa transportação só você poderá fazer
e escolher entre sucumbir e morrer como um asqueroso inseto
ou abraçar tua derradeira salvação
através do grito
da palavra escrita
da poesia bem dita...


Bel Lisboa